terça-feira, 10 de agosto de 2010

Computadores nas Escolas Públicas

Quase todos acreditamos que o uso de computadores nas escolas beneficia os alunos. Essa crença tem fomentado a adoção, por todos os níveis de governo, de políticas estimulando o uso dessas máquinas, no que é chamado de processo de inclusão digital. 
No entanto, estudos concluídos recentemente por pesquisadores da Unicamp indicam que essas políticas podem estar gravemente equivocadas, ao mostrarem que o uso de computadores para fazer tarefas escolares está relacionado ao pior desempenho dos alunos, especialmente entre os mais pobres e mais jovens.
Os pesquisadores que coordenaram o trabalho, Jacques Wainer e Tom Dwyer afirmam terem constatado que, entre alunos da mesma classe social, os que sempre usam o computador para elaboração das tarefas têm pior desempenho.  
Estudos anteriores apontavam para o fato de que alunos que tinham computadores em casa apresentavam melhor desempenho, mas na realidade parece que esse melhor desempenho derivava do fato desses alunos pertencerem a famílias com melhor situação financeira, o que implicava em uma melhor performance por razões de acesso a outras fontes de informação, apoio dos pais etc., e não simplesmente por utilizarem computadores.
A pesquisa de Wainer e Dwyer, para evitar essas distorções, considerou os alunos dentro de suas classes sociais e focou-se no uso da máquina para elaboração de tarefas, tendo constatado que em todas as classes sociais os alunos que usam o computador têm desempenho pior em Português e Matemática do que aqueles que nunca o utilizam para suas tarefas, sendo essa diferença agravada entre os alunos mais pobres.  
Não existem dados que expliquem as razões desse fenômeno, mas a pesquisa deve alertar aqueles que formulam políticas públicas, especialmente em termos de instalação de computadores em escolas e distribuição dessas máquinas aos alunos.  
É preciso entender melhor o fenômeno do impacto dos computadores no desempenho dos alunos antes de defender a simples distribuição de tais equipamentos, especialmente se considerarmos os custos envolvidos e a crônica escassez de recursos para a educação.
Temos observado que escolas recebem computadores e seus professores simplesmente não têm nenhum conhecimento acerca de como utilizá-los, além de não ser disponibilizado software educacional para utilização na escola, o que com freqüência transforma o computador num simples videogame, máquina de escrever ou ferramenta para acesso a sites do tipo Orkut (ou coisa pior), sem qualquer benefício real para o aluno.
Wainer disse que se não houver uma reflexão maior acerca do assunto, corremos o risco de transformar a inclusão digital em exclusão educacional, e que são necessários outros estudos sobre o tema, mas que os resultados de suas pesquisas são coerentes com os de outras pesquisas realizadas no exterior. 
Acreditamos que esses estudos devem servir como sinal de alerta, especialmente em função de nossa tendência de “seguir a boiada”, enquanto educadores e formuladores de políticas públicas; simplesmente tendemos a seguir o que está na moda e distribuir computadores está na moda.
A reflexão pode impedir que causemos ainda mais problemas às camadas mais humildes e indefesas de nossa população e que desperdicemos dinheiro público.

http://www.artigosbrasil.net/art/misc/2905/computador-escola.html%22

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